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IFMT ajuda a difundir técnica inovadora para o manejo de abelhas africanizadas na produção de mel

Publicado por: Campus Sorriso / 9 de Junho de 2021 às 13:33

Em Itá, no sul de Santa Catarina, Giblair Antônio Prates toma chimarrão tranquilamente a poucos centímetros de um enxame de abelhas que nos Estados Unidos são conhecidas como “abelhas assassinas”. O vídeo com essa cena, disponível o canal de Youtube “Mel Prates”, não contém efeitos especiais e nem retrata a performance de um dublê ou ilusionista. Prates é um produtor rural que trabalha com apicultura, e que adotou a técnica de manejo batizada de “método Recuo” em sua produção. O método foi desenvolvido em Sorriso-MT, pela produtora rural e técnica em agropecuária Clarice Saueresseg, que trabalha há 23 anos com a produção de mel e cuja experiência vem compartilhando com outros apicultores desde 2008.

Conhecida em sua comunidade como “professora Clarice”, a moradora do Assentamento Jonas Pinheiro, em Sorriso, já atuou na formação de mais de 60 apicultores e, ao ter contato com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT) Campus Sorriso por meio de atividades extensionistas da instituição no município, sua técnica para lidar com abelhas africanizadas chamou a atenção do prof. Dr. Élio Barbieri Junior, que leciona disciplinas relacionadas à apicultura nos cursos da instituição.

“É um método que não vemos nos livros, que ainda não é ensinado nas universidades, e que tem muitos aspectos positivos para a produtividade, para a saúde das colmeias e principalmente para a segurança dos apicultores”, conta o pesquisador. Com a missão de difundir o método Recuo, ele e a prof. Clarice uniram forças, divulgaram o método em grupos de apicultores de diferentes locais do Brasil para a realização de testes e validação da técnica e, devido o resultado positivo que obtiveram até então, seguem com a elaboração de uma videoaula, uma apostila e um artigo científico para que essa técnica alcance o mundo, começando pelos alunos do IFMT.

“O método Recuo consiste em você não alterar a rota das abelhas, entender que a abelha africanizada não respeita a fumaça igual a ‘abelha europa’”, explica Clarice. A filosofia por trás dessa técnica, segundo ela, é não estressar os insetos de forma desnecessária durante o manejo e a colheita do mel. Com menos stress durante as colheitas, as abelhas ficam mais fortes, produzem mais e com maior frequência.

O prof. Élio explica que a abelha africanizada começou a ocupar o continente após um acidente numa estação de pesquisa em 1956, quando um cientista brasileiro fazia experimentos na natureza cruzando abelhas africanas com abelhas européias, resultando em uma espécie híbrida com mais resistência a doenças, maior produtividade, mas também maior agressividade em relação à “abelha europa”. Algumas abelhas começaram a se reproduzir fora da área do experimento e a população da espécie híbrida ocupou novos territórios. Hoje a espécie já está presente até mesmo nos Estados Unidos, onde sua agressividade lhe conferiu o apelido de “abelha assassina”. Mas quem utiliza a técnica da professora Clarice já percebe um risco menor de sofrer ataques durante o manejo das caixas de mel de abelhas africanizadas em comparação com a abordagem tradicional.

Enquanto que no método tradicional acontece a dispersão das abelhas com uso intenso de fumaça, forçando a saída do enxame pela parte de cima da caixa, no Recuo a pessoa que está colhendo mel deve usar a fumaça em quantidade mínima, e visando direcionar o enxame para sair calmamente pelo alvado, que é uma abertura na parte inferior da caixa utilizada na produção (daí o nome recuo). “O grande segredo é não jogar fumaça no alvado e não manejar a caixa pela frente, sempre por trás e calmamente, ouvindo os sons emitidos e o comportamento da colmeia”, explica Clarice.

Uma das vantagens dessa técnica percebida pelos produtores é a menor agressividade entre as colmeias, o que possibilita um distanciamento menor entre as caixas sem que haja perdas de produção e pilhagem entre as colmeias vizinhas, o que normalmente resulta na morte de grande número de abelhas. “Pilhagem é o ato de uma colmeia invadir e saquear a comédia vizinha. Uma colmeia se aproveita da desorganização da outra em virtude do manejo. Se o manejo é mais racional elas não se desorganizam e nenhuma rouba de ninguém, todas trabalham mais e melhor”, detalha Barbieri.

O produtor Orécio Dorival dos Santos, conhecido no assentamento como Barnabé, é um dos primeiros alunos da professora Clarice e afirma colher em média 80Kg de mel por caixa em um ano de produção com a técnica do recuo. Ele conta que em 2008, quando foi aluno de Clarice “não tinha conhecimento nenhum, método nenhum... aí a professora chegou lá, me ofereceu uma caixa pra mim começar e eu ‘me ataquei’... Ela me deu cinco no final. Daí pra lá eu fui me virando e agora eu tenho 28 caixas e estou muito feliz”.

Além dos ganhos na produção em propriedades rurais, outra vantagem é que o método se aplica na captura de abelhas em estruturas e no meio urbano, evitando a morte dos insetos para livrar esses ambientes das invasões. “Nós estamos nos encaminhando para um processo onde o sumiço das abelhas deve cada vez piorar, por doenças e outros motivos. Com esse método não há necessidade de se abater abelha em cidade. Com esse método você consegue retirar a abelha de qualquer viga de prédio sem precisar matar os insetos, e nós conseguimos fazer todas as capturas na cidade com uma tranquilidade muito grande”, afirma Clarice.

Para o professor do Instituto Federal, ainda há muito a se aprender em relação às abelhas, e o método do Recuo se alinha com a tendência de tornar a produção agrícola cada vez mais sustentável.  “Levamos mais de 50 anos para observar e compreender a forma adequada de se trabalhar abelhas africanizadas em nosso país. Por isso, ensinar formas de manejo mais ambientalmente adequadas, que contribuem para o aumento da produtividade apícola e ainda garantam maior segurança dos apicultores envolvidos no manejo de suas criações e comunidades vizinhas é um grande avanço. É fundamental que nossos estudantes e os novos apicultores já aprendam com esses novos modelos de manejo, e o método Recuo é, sem dúvida, um grande avanço tecnológico em relação ao manejo tradicional dessas abelhas africanizadas”, conclui o prof. Élio.

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