No dia Nacional da Consciência Negra, comemorado em 20 de novembro, o IFMT dá um passo significativo no sentido de fortalecer as políticas públicas para as populações negra, indígena e de fronteira em Mato Grosso, com a transferência, do Campus Pontes e Lacerda para a Reitoria, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiro, Indígena e de Fonteira Maria Dimpina Lobo Duarte, (NEAB/NUMDI). A portaria nº 2.786, de 17 de novembro de 2017, foi assinada pela reitora substituta do IFMT, professora Gláucia Mara de Barros.
“Considerando que as políticas públicas para a população negra vem sendo consolidadas no IFMT desde 2008 e para que as discussões nos campi não fiquem fragmentadas estamos transferindo o NUMDI para a Reitoria, de modo que, institucionalizado como único Núcleo de Estudos desses temas trabalhe o ensino, a pesquisa e a extensão”, informa a professora Glaucia Barros, membro da Coordenação Geral do NUMDI e uma incentivadora do trabalho desde o início, em 2011.
Após a transferência de sede para a Reitoria, foi criada uma comissão de coordenação geral, presidida pelo reitor, professor Willian Silva de Paula, e formada pela reitora substituta, professora Gláucia Mara de Barros, professor Carlos André de Oliveira Câmara, da Pró-Reitoria de Ensino (Proen), professor Túlio Marcel Figueiredo, da Pró-Reitoria de Administração (Proad), e pelas professoras Marilane Alves da Costa, diretora de ensino superior e Maristela Guimarães, ouvidora e pesquisadora. As duas últimas trabalharão na readequação do regulamento a ser aprovado nas instâncias.
A partir daí, explica a pesquisadora, todas as ações institucionalizadas sobre a temática de relações raciais, quilombola, população negra, indígena e estudos migratórios/fronteiriços precisam estar ligadas ao NEABI. Em todos os campi há servidores integrados à temática e o Núcleo é o espaço que congregará todos eles e suas respectivas atividades. Os Núcleos de Estudos Afro-Brasileiro (NEABs) são grupos de pesquisa constituídos presentes nas instituições públicas do país.
“A instituição cria o NEAB e regulamenta de acordo com as suas especificidades, como estamos fazendo e esses espaços visibilizam, apoiam e fazem acontecer as políticas de ensino, extensão e pesquisa das instituições. É preciso ainda dizer que os Neabs ou Neabis são espaços de acolhimento para as populações as quais representam”, expôs a pesquisadora.
As origens do NUMDI
Maristela conta que o núcleo foi criado em 2011, em Pontes e Lacerda, quando a professora Gláucia Mara era a diretora daquele campus. “Eu havia coordenado o Núcleo de Estudos de Gênero, Raça e Alteridade (Negra), o NEAB da Unemat e sido pesquisadora do NEPRE, da UFMT. Ao chegar no IFMT fiz uma proposição de criação de um NEAB, a professora Gláucia imediatamente apoiou e a professora Marilane, que já realizava trabalho consistente da semana de consciência negra no campus juntou-se a nós”, relembra Maristela, salientando, ainda, o apoio da pedagoga, Anne Matos e da técnica, Rosicleia Moreira.
Juntas, elas confeccionaram o primeiro regimento. “Em 2011 e 2012 foi feito no campus um trabalho em conjunto entre o Negra e o Nepre. Vários projetos de pesquisa e discussões aconteceram na instituição. Uma dessas discussões resultou na criação do DINTER da Ufscar/Unemat/IFMT”, detalha a professora Maristela. Em 2017 o professor Willian, estudioso de relações raciais a partir de 2005 e parceiro do NEAB/NUMDI desde Pontes e Lacerda, assume o cargo de reitor e, seguindo o modelo de outras instituições, integra o Núcleo à Reitoria, a fim de aproximar as ações de ensino, pesquisa e extensão, ou seja, redimensionar as possibilidades de ações.
Consciência Negra
A escolha do 20 de novembro, aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, para a transferência de sede é simbólica e faz uma releitura da importância da população negra para a construção histórica no Brasil. “A instituição do NUMDI como uma instância dentro do IF é o fortalecimento das nossas políticas públicas voltadas às populações que estão sub-representadas. O NEABI oportuniza visibilidade e voz, uma política de instalação de uma soberania”, defende Maristela.
A existência dessa data, continua a pesquisadora, vem pela perspectiva da Lei 10.639 de 2003, que diz que 13 de maio não é o dia de abolição da escravatura. “A abolição nunca aconteceu. O que tivemos vem da referência de uma mulher branca como redentora dos povos negros. E o movimento negro considera que não houve essa redenção. A população negra foi relegada a uma série de circunstâncias políticas, econômicas e sociais, que fizeram com que estivesse sempre sub-representada”.